(foto tirada da net)

O "Chuchinha"

Há dias assim…de repente ,pumba, recebemos uma bofetada para nos fazer ver que nem tudo o que parece é…

Estava ao balcão de um café, quando um garoto dos seus 10 anos puxou pelo casaco, e pediu-me uma moeda para um bolo.Dizia ele que estava com fome.Olhei-o, fato de treino da nike, sapatos da mesma marca, um saco de cola na mão, senti-me usada mas, perante tanta insistência dei lhe a tal moeda, não deixando de lhe dizer:

- Para quê dizeres que vais comprar um bolo, quando eu sei que vais comprar cola para pôr nesse saco? Mas toma lá, o problema é teu!”…

Ele olhou-me, sorriu e afastou-se.
Já tinha esquecido a cena, quando sinto de novo um puxão no casaco. Lá estava ele com um bolo na mão, e ao estender a mão disse-me: " Isto é seu, é o troco do bolo. "O chão ruiu a meus pés, e, com lágrimas nos olhos não me importando com o que quer que fosse, dei-lhe um beijo.

Ele admirado disse-me: "...dona, é apenas o troco…".

Calou-se e disse-me sorrindo meio envergonhado: " ...Sabe nunca ninguém me tinha dado um beijo, obrigado."

E , assim partiu aquele que mais tarde voltei a encontrar numa escola algures, chamavam-lhe “o chuchinha” e prostituía-se no Cais do Sodré. Ficámos amigos e cúmplices.

Mas há muito não sei dele.Onde andas agora amigo?

(desenho Andreia)
Terça-feira, Janeiro 25, 2005

Farda de Palhaço

Rompe-se uma farda remendada de palhaço...

Ele está absolutamente incapaz de dar mais uma vez, um ponto aqui, outro ali...não, desta vez acabou!!!

Esta tarde, já não verá os olhos brilhantes das crianças esperando com avidez as suas palhaçadas... sim, não haverá mais espectáculo, não mais rirá com vontade de chorar.

Olha para a farda desalentado, não tem mais a sua defesa, ela era o seu escudo, a sua força!Agora nada mais lhe resta a não ser o caminho que tinha decidido seguir um dia...

...sim, a hora tinha chegado.

No dia seginte, no jornal, num cantinho bem pequeno havia uma notícia:

" Suicidou-se o "palhaço", ninguém sabe a razão, vai a enterrar amanhã com a sua esfacelada "Farda de Palhaço"

Foto Manuel Luis Cochofel


Cidades Artificiais
Junho de 2003
Olho, volto a olhar à minha volta e vejo as cidades na sua crueza... não, não é este o meu conceito de cidade, nem é assim que eu as quero sentir, as minhas são assim ... como estas das fotos... podemos olhar para elas reparem... sente-se o seu coração pulsar, estão lá, chamam por mim, querendo transmitir-me algo, mostrando-me o seu interior e sobretudo a sua magia carregada nesta luz, que me convida a entrar e caminhar pelas suas ruas com um sentir diferente de paz, com uma solidão ansiada, transportada pelo sonho, conseguindo ouvir o seu silêncio, observando, amando tudo aquilo que de outra forma não me é permitido fazer sem passar despercebida ,sim, são assim também as minhas cidades... podem ser artificiais, mas é desta forma que eu gosto delas, sentindo o meu coração pulsar ao seu ritmo.

(este texto foi feito,para exposição individual de fotos do Manuel Luis Cochofel,

no Pontos.de.vista)

Le petit prince

FRASES QUE ME MARCARAM...

"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante." Antoine de Saint-Exupery"

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" Antoine de Saint-Exupery

"Só se vê com o coração.O Essencial é invisível aos olhos" Antoine de Saint-Exupery

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." Antoine de Saint-Exupery

A minha casa...

Gosto, e tenho saudades da minha casa, quando estou longe dela.Acho-a linda, apesar de não ser muito grande.De todas as janelas vejo o mar, por vezes sereno...outras bravo e indomável, e que me chega a causar um misto de inveja e saudade pois banha, outros lugares que amo, onde já não posso estar.Gosto do branco das paredes, principalmente à tardinha e em dias de sol quando este as inunda com a luz linda, e nostálgica do seu adeus. Elas, as paredes também me conhecem bem, ouvem os meus desabafos tristes ou alegres ,as minhas raivas, os meus risos e os meus silêncios...E como alguém disse: “Gosto da madeira do chão, porque me lembra sempre um tapete mudo, que, como eu, sofre em silêncio com as dores de quem o pisa...Por tudo isto “gosto do seu refugio, e dos seus prazeres, únicos refúgios, neste mundo que me é cada vez mais hostil.”

Saudade

Sabes, hoje acordei cheia de saudades tuas (dia 24 de Janeiro 2000)…e isso deu-me vontade de te falar, “carangueja”, mas, ao mesmo tempo sinto ainda a raiva de saberes que estavas de partida , sem nada me dizeres …

Apenas aquelas entrelinhas…aqueles jogos, lembras-te?
- “Vais fugir para o Brasil, e eu…?”

Os teus telefonemas para lá, quando parti…”carangueja volta…”

Depois, juntas de novo começavas….
-“O que significa para ti este quadro?”
-“ Aquela jarra ali?”
- “Aquele boneco?”
e, de repente...

- “e esta botija de oxigénio?”….

A medo dizia-te , o que cada coisa era poéticamente falando, mas quando me fazias aquela ultima pergunta, eu sentia-te ir…sentia que me estavas a experimentar, a querer dizer algo, e, a custo respondia-te ;

- "VIDA".
Abanavas a cabeça, e dizias:

-” És realista como eu…”

Até hoje ainda não consigo entender, como apesar de saberes que era eu que queria partir, nada me disseste seres tu a ir primeiro e breve, e ainda me escolheste para apertares a minha mão, dando-me como prenda o teu último suspiro????

Porquê amiga? Onde estás?

Tenho tanto para te dizer, tanto para te contar, e tu ias gostar eu sei, vibrar, até consigo ouvir a tua voz…

Oh, carangueja…porquê????

O Thiago, até hoje tudo o que faz pensa em ti, nas suas alegrias e tristezas estás sempre presente, a tua fotografia sempre colada na sua carteira.
Eu, nunca mais pude pisar na Academia, bem me pedem para voltar, mas para quê se haverá sempre o teu lugar vazio, e, sem ti nada daquilo tem o mesmo sabor?

Tenho tantas saudades dos teus toques…pedi-te no pequeno texto que te dediquei no dia do teu corpo partir, que de vez em quando me desses um toque…não o ouvi mais! Ou será como o Francisco diz” as estrelinhas para onde vamos são lindas..." será que vês tudo o que eu faço”? Se é, por favor vem buscar-me e leva-me para lá, eu quero estar contigo!

Beatriz (Chico Buarque)

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo-céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz, se é perigoso a gente ser feliz
Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

posted by Maria Clarinda at 9:46 AM

Foto Mário

REFLEXÕES À MESA DO CAFÉ

Olha-me, no olhar um misto de curiosidade e ternura...Sorri, querendo talvez saber o que escrevo , e, porque a olho também... Tem um quê no olhar que irradia paz, a paz de quem tem a força do brilho das estrelas, transformadas em pirilampos e em Nome...Qual será o seu?Não importa! Continua sorrindo...e, eu a medo retribuo, em silêncio agradeço-lhe, pois, dentro de mim senti um pouco da sua paz transformada em luz, pela força dos seus pirilampos, que um dia foram estrelas, e, moram agora em seu olhar.
Lisboa,26/10/02 ( mesa de um café)

Este texto contém por vezes algumas frases que vou lendo me fazem reflectir e escrever sobre elas, por isso estão entre aspasLi algures, e acho que partilho completamente deste sentir....“ Parece que durante anos e anos, alguém ou algo entrou dentro de mim, foi escavando túneis e mais túneis no silêncio e na escuridão, devorando todas as minhas certezas, as minhas ilusões...cá fora julgo-me muito forte capaz de tudo aguentar, mas estou de tal maneira esburacada, que tal como um baralho de cartas desmorono ao mais pequeno sopro ficando então completamente vazia”Não, sei como reagir a tudo isto, tento, talvez com “cimento barato, e às três pancadas” tudo reconstruir, mas os buracos são imensos e sinto as forças esvairem-se , por isso este cansaço imenso, e a vontade de desistir...
Lisboa, 02/11/02


Falei com o silêncio, e ele não me ouviu, como poderia ele ouvir se era silêncio?Então deixei voar o pensamento, procurei-o, e ele falou comigo.O que me disse?Para quê dizer se era silêncio....
Lisboa,26/10/02 ( mesa de um café)Domingo, Maio 02, 2004


Entrou...vestida de verde, no semblante um sorriso apalermado, para quem o verde há muito, tinha deixado de ser a cor da esperança.Viu-me, olhou para mim, encolheu os ombros e saiu...vestida de verde.