sexta-feira, janeiro 16, 2009

O Artur sentiu sobre a orelha uma coisa muito fria, com um som...
- O que é, mãe?
- Não ouves? Sim, ouvia. Era um som pesado lá ao longe e que depois vinha, vinha e subia, e que depois se tornava mais brandinho, para logo voltar a vir de longe. Parecia música, mas não era bem música. E talvez fosse. Bom, não seria bem música.
- O que é, mãe? - voltou a perguntar.
- Que barulho é este?
- É o mar... É a voz do mar...
- A voz do mar?!
- O mar fica longe, mas a voz meteu-se aí dentro. Isto é um búzio.
- E onde nascem os búzios?
- No mar.
- Então é por isso que se ouve...
- Pois é. As ondas fazem um barulho assim quando se ouvem ao longe. E a gente está longe. Não ouves a voz que lá vem?
- Oiço.
- E depois quebra-se assim como as ondas na areia.…De repente, fechou os olhos e juntou as duas mãos sobre o búzio, apertando-o contra o ouvido.
- Agora deve ser um navio que lá vem. É mesmo, é, é um navio...A mãe aproximou o ouvido, desviando o lenço.
- Não ouves? Não, a mãe não ouvia. Mas o importante para ele era ter o mar apertado entre as mãos. Lá vinha uma onda... e outra.

Alves Redol, Histórias
(Apenas mais uma partilha...)

54 Comments:

Blogger Paula Raposo said...

E uma partilha maravilhosa, Clarinda, para terminar em beleza perfeita esta semana!! A foto excelente (como sempre...repito-me!).Muitos beijos.

1/16/2009 12:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E aqui estás miúda, mais uma vez tu e as tuas estátuas, aliás os pormenores das estátuas!
Excelente o texto de Alves Redol, adoro e acho que ninguém faz tão bem, a conjugação entre as fotos e o textos!!!
Continua "miúda" sempre, e, tu sabes que te adoro!
Beijos

12:51 PM

1/16/2009 12:54 da tarde  
Blogger Maria said...

Tudo o que é partilhado é bonito. Esta é uma partilha especialmente bonita para mim, pois guardo um búzio que era da minha avó e onde eu ouvia o mar quando era miúda...

Um beijo

1/16/2009 1:05 da tarde  
Blogger Thiago said...

Que curioso, uma história tão autobiográfica!

Lembro-me de ser pequeno e me fazeres exactamente o mesmo com um búzio que tinhas na cómoda do teu quarto...lembras-te?

um beijo muito grande e mais uma vez parabéns pela mestria de juntar foto e texto em harmonia

1/16/2009 1:08 da tarde  
Blogger Arménia Baptista said...

Lindo!...quem não experimentou, em pequeno, a mesma sensação?...E não é que se ouvia mesmo?! Que saudades!!!
obrigada
bjs
:-)

1/16/2009 2:30 da tarde  
Blogger mfc said...

Lembro-me do encantamento que senti, quando pela primeira vez ouvi o mar dentro daquele búzio mágico que o meu Avô me proporcionou!

1/16/2009 3:54 da tarde  
Blogger JOSÉ RIBEIRO MARTO said...

... um búzio , um fruto do mar para ouvir....
Um prazer este excerto do nosso
Redol

abraço
_____ JRMarto

1/16/2009 5:31 da tarde  
Blogger Cristiana Fonseca said...

Olá Maria,
fabuloso blog, escrita encantadora.
Parabéns.
Agradeço-lhe a visita gentil, volte sempre que puder e seja bem vinda.
Abraços,
Cris

1/16/2009 5:47 da tarde  
Blogger FERNANDINHA & POEMAS said...

QUERIDA MARIA CLARINDA, MARAVILHOSO TEXTO... ADOREI!!!
A FOTO MAGNÍFICA... TUDO LINDO POR AQUI AMIGA... UM GRANDE ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

1/16/2009 5:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E que bela partilha.


Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

1/16/2009 6:26 da tarde  
Blogger vida de vidro said...

Quando era criança, adirava ouvir o mar nos búzios... Adorei o texto.

P.S: tens uma lembrança no meu blog **

1/16/2009 6:30 da tarde  
Blogger Juani said...

realmente el sonido es identico a las olas del mar en la lejania, preciosa historia
saluditos

1/16/2009 7:10 da tarde  
Blogger Graça Pires said...

Delicioso o texto de Alves Redol. Obrigada por o partilhares aqui.
Um beijo.

1/16/2009 7:17 da tarde  
Blogger A OUTRA said...

Maria, bela foto!
Mais um dos teus ricos pormenores.
Desejo-te um bom fim de semana.
Bj
Maria

1/16/2009 7:38 da tarde  
Blogger By Me said...

Muito bonito partilhares esses textos...faz bem recordar,relembrar...
Tão enternecedor essa coisa linda entre mãe e filho...e o mar pelo meio...os navios piratas,ancorados em alto mar,sem guerras,sem mágoas... apenas balançando-se nos sonhos das gaivotas que voam mais alto que os homens...
Um abraço

1/16/2009 9:15 da tarde  
Blogger Pena said...

Como se consegue construir um texto enternecedor e fabuloso com o som do mar. Perfeito. Adorei, com sinceridade e seriedade.
Beijinhos de imenso respeito.
Parabéns!
Cordialmente e com simpatia

pena

Lindo, o que concebeu com ternura e afecto.

1/16/2009 10:01 da tarde  
Blogger A OUTRA said...

Maria:
Podes ver o que vai ser feito com um click no título da fotografia.
Obrigada a tua atenção de que gosto muito
Bj
Maria

1/16/2009 10:32 da tarde  
Blogger Luz Santos said...

Maria não me admira que esquecesses aquele meu Fotoblog pois assino com o nome do Blog isto porque foi o último que criei.
Bj
A Luz A Sombra

1/16/2009 11:43 da tarde  
Blogger BlueVelvet said...

Quando era pequenina a minha avó também me contava esta história enquantro me encostava um búzio no ouvido.
Parecia magia. Que saudades desse tempo.
Beijinhos e bom fim-de-semana

1/17/2009 1:14 da manhã  
Blogger Unknown said...

Clarinda,
este texto é maravilhoso!
"...ter o mar apertado entre as mãos..." Que coisa linda de se ler!!!

Beijinhos,
Ana Martins

1/17/2009 1:25 da manhã  
Blogger Sonia Schmorantz said...

Façam tardes as manhãs
Façam artes os artistas
Faça parte da maçã
A condenação prevista
Façam chuvas os Xamãs
Façam danças as coristas
Façam votos que esta corda
Não sabote o equilibrista

Façam Beatles "For No One"
Faça o povo a justiça
Faça amor o tempo todo
Que amor não desperdiça
Faça votos pra alegria
Faça com que todo dia
Seja um dia de domingo

Façam tardes as manhãs
Façam artes os artistas
Faça parte da maçã
A condenação prevista

Façam Beatles "For No One"
Faça o povo a justiça
Faça amor o tempo todo
Que amor não desperdiça
Faça votos pra alegria
Faça com que todo dia
Seja um dia de domingo

(Osvaldo Montenegro)

Votos de um lindo final de semana
Um abraço

1/17/2009 5:04 da manhã  
Blogger Agulheta said...

Maravilhoso Clarinda!Pois quem gosta do mar gosta de escutar nos búzios a seu falar e seus sons.
Gostei do texto,beijinho e bfs.

Lisa

1/17/2009 9:47 da tarde  
Blogger conduarte said...

O mar nas nossas mãos?! Que lindo, as ondas, e o nosso olhar no infinito do mar. Lindo, lindo, lindo! Bjus CON DUARTE

1/17/2009 10:48 da tarde  
Blogger Sofá Amarelo said...

E de uma coisa simples, Redol fez magia... a provar que é nas coisas simples que está a essência da vida!

1/17/2009 11:23 da tarde  
Blogger kakauzinha said...

"O mar apertado entre as mãos", é assim que o tenho também e oiço-o num búzio.

Linda história, do que temos de muito bom por cá, da nossa maravilhosa Língua.

Beijinhos de mar****

1/18/2009 1:25 da manhã  
Blogger Tongzhi said...

Tem muita piada ler isto numa altura em que oiço o mar, mas não o vejo. Está tanto nevoeiro que sinto que ele está ali, no mesmo sítio de sempre. Está bravo, porque o oiço com muita intensidade. Imagino-o, mas não o vejo...
Maldito nevoeiro!!!

1/18/2009 3:27 da tarde  
Blogger Alice Matos said...

Que saudades de ler Alves Redol... não sei bem porquê... talvez por ter sido uma descoberta de criança, ficou na estante do tempo passado...

Linda escolha, Clarinda...

Beijo para ti...

1/18/2009 4:00 da tarde  
Blogger Aníbal Duarte Raposo said...

Ouvir o mar na concha de um búzio. Ainda hoje repito o gesto na minha fajã. Lindo.

1/18/2009 4:46 da tarde  
Blogger Oliver Pickwick said...

Muito bonito! Os buzios são os "cronistas" do mar e de todas as suas histórias.
Estou de volta.
Um beijo!

1/18/2009 5:35 da tarde  
Blogger Menina do Rio said...

Que lindo! Quando criança, usava uma concha para ouvir o mar

um beijinho

1/18/2009 6:19 da tarde  
Blogger Isabel José António said...

Queridos Amigos,

Partilhando um pedaço do nosso Domingo convosco, actualizámos os nossos Blogues principais.
Com o Caminho do Coração http://reflexoessentidas.blogspot.com/ reflectimos, com a ajuda de Fernando Pessoa, sobre a CONSCIÊNCIA.
No Observatório http://diarioestetico.blogspot.com/ vimos como um aparentemente “vulgar” nevoeiro pode dar origem a um OLHAR renovado…
No POESIA VIVA http://flordojacaranda.blogspot.com/ oramos pelo Planeta e finalmente, no nosso blogue em Inglês http://newsletterfromlisbon.blogspot.com/ admiramos Lisboa, essa “Musa” que nunca deixa de nos inspirar…

Um abraço nosso e desejos de uma BOA SEMANA!

Isabel e José António

Lisboa 18 Janeiro 2009

1/18/2009 6:37 da tarde  
Blogger Isabel José António said...

Que texto tão bem escolhido, com uma simplicidade tão grande e no entanto tão profundo!

Bela foto também. Abraço,

Isabel

1/18/2009 6:38 da tarde  
Blogger Gata Verde said...

Lindo....

beijocas

1/18/2009 6:47 da tarde  
Blogger Aprendiz de Poeta said...

Este comentário foi removido pelo autor.

1/18/2009 7:07 da tarde  
Blogger Luna said...

Existem momentos lindos, que nos podem dar em crianças, e esses momentos vão acompanhar-nos no futuro, o escutar o mar num buzio é algo que me acompanha desde menica como uma canão de embalar
beijinhos

1/18/2009 9:08 da tarde  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
maria clarinda
,
o meu ALVES REDOL,
,
se puderes vai ao meu poste
dedicado a Redol de 28/11/08,
,

barcos sem rios os gaibéus desciam
nas veias do silencio e da revolta
e era a viagem de nenhum regresso
na secura dos lábios renasciam
sementes do granito das origens
ou corações de xisto nas lezírias
distantes da saudade e do exílio
e era a viagem de nenhum regresso
levavam no seu rosto esse destino
em fome e nos seus olhos a tristeza
vivia sangue o pranto que se ouvia
pela noite tão longa do seu canto
( desciam até onde não sabiam
qual a viagem do nenhum regresso )
*****
poema de: António Salvado
que dedicou a alves redol,
,
conchinhas de saudade, deixo,
,
*

1/18/2009 9:27 da tarde  
Blogger Rita Galante said...

Olá Butterfly!

Mais uma magnífica foto que se encaixa na perfeição nas palavras desta linda história.

Beijinhos de Amor e Luz!

1/18/2009 10:26 da tarde  
Blogger Anita said...

Pessoas especiais como tu, têm em si a essência da amizade, para perfumar o mundo com amor verdadeiro.
Pessoas especiais são como anjos, com dedos de condão, para tocar com magia o semblante dos que amam.
Pessoas especiais são dádivas de Deus, para abençoar os caminhos daqueles que cruzarem o teu caminho.

Uma semana cheia de bênçãos.
Beijinhos.
Fica bem. Fica com Deus.
Anita (amor fraternal)

1/19/2009 7:37 da manhã  
Blogger São said...

Alves Redol,um dos meus companheiros de juventude...

Para mim, o seu melhor livro: "Barranco de Cegos".

gostei da foto.

Feliz semana.

1/19/2009 11:50 da manhã  
Blogger poeta_silente said...

OLá.
Obrigada pela visita.
Lindo texto. Muitas vezes colocamos em nossas mãos não só o mar, mas o tempo das ondas. E neste vai-vem constante, percebemos que o tempo deixa lembranças na areia da nossa vida, que não se desfazem e que são bálsamos que nos acompanham para sempre.
Lindo texto. Ter o mar, as ondas, o tempo - nas mãos.
Deus te abençoe.
Miriam

1/19/2009 1:58 da tarde  
Blogger luis lourenço said...

sentido e belo o texto...teu blogue tem qualidade evidente.
obrigado pela visita...

bjinho

véu de maya

1/19/2009 4:57 da tarde  
Blogger Viviana said...

Olá Maria Clarinda,

Primeiro quero dizer-lhe que a sua música é lindíssima.

Depois, dizer-lhe que achei o texto de uma enorme ternura e beleza.

E por fim...quando vi que era da autoria do meu saudoso Alves Redol!
Senti um calafrio na espinha!

Ai como eu gostava de o ler!

Acho que li quase tudo dele...

Deliciava-me com as suas palavras.

Obrigada por esta maravilhosa ideia de o trazer hoje aqui.

Fez-me sorrir de alegria.

Um beijo

viviana

1/19/2009 9:42 da tarde  
Blogger Naty said...

Ola visitei teu cantinho e gostei.
voltarei.Lindo texto adorei
bjs naty

1/20/2009 12:04 da manhã  
Blogger Lúcia Laborda said...

Doce amiga! O som do mar e dos búzios, parecem cantigas ao longe...
Bela história!
Boa semana! Beijos

1/20/2009 12:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Salvé Clarinda
Uno, sim.
Porém fiquei sem saber se será mais uma a entrar nesta corrente de PAZ, ou se terá vergonha que outros "ajuízem" a tendência que é precisamente UNA!

Abraço meu
Mariz

1/20/2009 8:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Esqueci-me de acrescentar que achei o texto do Redol muito belo e que fiz teatro com algumas peças dele. penso que está tudo dito.

Quanto ao búzio é a vulgar expressão de O Conhecimento! - aquele que a maioria desconhece e não tem nada a ver com o conhecimento dos livros da escola de base nem dos mestrados.
é mais ALTO!

Há pessoas como o Redol que se enquadram na frase lida no LIVRO de todos os tempos e que diz:
"A BOCA FALA DO QUE ESTÁ CHEIO O CORAÇÃO"!

É por essa razão que o mundo está como o "vemos, ouvimos e lemos...já não podemos ignorar"...

Sempre...
Mariz

1/20/2009 9:10 da manhã  
Blogger Carla said...

amiga que história linda aqui nos deixas e que foto espectacular...acho que já te disse que dás vida às estátuas
beijos

1/20/2009 11:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É, na verdade...
Un parfun du fin de monde...

( Les uns et les autres, claro )

1/20/2009 6:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É, na verdade...
Un parfun du fin de monde...

( Les uns et les autres, claro )

1/20/2009 6:39 da tarde  
Blogger MARIPA said...

Palavras que soam como o mar dentro do búzio... que preenchem as saudades...que dão alento ao sonho das ondas e marés que me atravessam.

Bem-hajas por tão bela partilha,Maria Clarinda.

Beijo,amiga. E o meu carinho.

1/20/2009 7:20 da tarde  
Blogger O Árabe said...

Lembro de meus pais, a isto me dizerem, quando criança eu era. :)

1/20/2009 8:34 da tarde  
Blogger Manuel Veiga said...

belo e sensível texto...
abraço

1/20/2009 11:52 da tarde  
Blogger Unknown said...

São histórias que todos gostam de ouvir a contar...

Bjnhs

ZezinhoMota

1/21/2009 5:24 da tarde  
Blogger MEU DOCE AMOR said...

Os búzios falam...dizem.Um belo som...com lindas palavras.

Um beijinho doce para ti:)

1/21/2009 9:51 da tarde  

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