segunda-feira, outubro 16, 2006


A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem,quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa
quando as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida...



( Sophia de Mello Breyner Andresen )

4 Comments:

Blogger MSP said...

Caríssima Maria Clarinda

muito obrigado por este tão bonito poema de Sophia.
Hora Escura, Estalos, Noite. Arvores. Tempos e espaços. Coordenadas que nos limitam a existência mas das quais luto também eu por libertar-me. Partir, fugir dos temores, dos enfados, do desconhecimento das alegrias, de mim próprio. Acho que todos nós, que somos mais sensíveis a estas coisas, odiámo-nos a nós próprios e à nossa existência de algum modo. Não quisemos ser como somos e daí o desejo de partir. Mas a nossa sensibilidade, ao mesmo tempo que nos causa dor, é um dom, e o dom só se realiza dando-se. Encontro a minha única alegria dando-me completamente a quem me merece, amando com e em plenitude aqueles que sei que podem crescer com o meu amor, e assim também eu germino no amor com que me retribuem. Mas há horas duras, onde a tristeza domina e perdemos a noção das coisas. Aí eu escrevo, exorcizo os meus medos nos textos, e posso depois continuar. Não digo que seja feliz - acho que apenas nos conseguimos sentir contentes e felizes nalguns momentos - mas só me aproximo disso quando não procuro a minha face num espelho, senão somente o rosto de quem amo. Agora vivo pessoalmente um período assim, porque me movo por amor puro e desinteressado. Acho que é assim, dando-me com os meus dons - e valha-me a redundância - é que me recebo nos que me recebem.
Espero não estar a abusar, mas acho que consigo se passará algo de semelhante. Nas suas palavras, no seu blog que tenho lido e relido desde que o conheci de uma ponta à outra, encontro-me tanto! Nem imagina a força e a alegria que me tem dado nos seus textos, nas suas imagens, nos seus silêncios respeituosos que deixam lugar à minha inclusão nos temas expostos... Tem sido uma das minhas forças numa fase extremamente difícil que tenho vivido, e daí este comentário tão extenso. A sua vida está em si, nos seus textos, e ainda por cima transmite-se a quem a lê. Cá continuarei atento, e prometo tentar controlar-me no tamanho dos comentários. Mas não podia deixar de lhe confidenciar tudo isto.
Um grande muito obrigado por tudo.
permita-me que lhe mande um beijo e um abraço
NC

10/17/2006 3:10 da manhã  
Blogger vida de vidro said...

Única, maravilhosa e inimitável Sophia! Adorei encontrá-la aqui.
Linda foto! **

10/17/2006 10:02 da tarde  
Blogger ellla said...

Poema lindo, cenas como quadros vivos desfilam ao ler...e ecos traversam a cada mmovimento...gostei da mensagem huuuuuum bigada laurinda, bem que, estranho, nao tive a mesma reaccao a 1a vez que a li

jinhos

PS: nao fiques chocada c meus temas, ;)

10/30/2006 10:11 da manhã  
Blogger neva said...

a foto está muito boa parabens

5/05/2007 11:26 da manhã  

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